Centro de Ensino e
Língua Portuguesa
Escola Portuguesa de
Luanda
Disciplina de
Sociologia
Castigos Escolares
Docente: Helena Melo
Trabalho realizado por:
Danilo Silva nº3
Henrique Mayamona nº6
Judith Job nº8
Ralde Sicato nº14
Tema: Castigos Escolares
Problema: Saber a eficácia dos castigos escolares aplicados na actualidade,
quando comparados com os do passado.
Pergunta de partida: Que tipo de castigos tem maior eficácia?
No
segundo período, como foi proposto no anterior, o nosso grupo realizou
entrevistas e levou a cabo a observação de duas turmas da Escola Portuguesa de
Luanda, a que daremos continuidade no terceiro período.
Entrevistas
As
entrevistas foram realizadas a 9 indivíduos, um conjunto de alunos e antigos
alunos dos 12 aos 68 anos de idade, que agrupamos em trios por 3 gerações:
·
Primeira Geração: 55-70 anos de idade
·
Segunda Geração: 25-35 anos de idade
·
Terceira Geração: 10-15 anos de idade
Guião das entrevistas
Tendo
em conta que o objetivo do nosso trabalho é saber a eficácia dos castigos
escolares aplicados na atualidade, quando comparados com os do passado,
resolvemos entrevistar indivíduos de gerações distintas, colocando as mesmas
questões, para perceber a evolução das sanções.
As
perguntas foram as seguintes:
·
Como caracteriza os métodos levados a
cabo na sua escola para impôr a disciplina dentro da sala de aula? Dê exemplos
concretos da aplicação desses métodos.
·
Considera que, em geral, estes são/eram
eficazes? Quais os efeitos e reações que se observa/observava por parte dos
seus colegas?
·
Como é/era a relação aluno-professor
dentro da sala de aula?
·
Em algum momento se sentiu denegrido com
esses castigos?
·
Como contribuem/contribuiram estes
castigos para a construção das sua personalidade e desempenho profissional?
Análise de conteúdos
-Primeira Geração
Entrevistado
|
Métodos
|
Exemplos
|
Eficácia dos métodos
|
Efeitos/
Reações |
Relação aluno-professor
|
Já se sentiu denegrido com algum castigo que lhe
foi aplicado?
|
Contribuição dos castigos para
personalidade e
desempenho
profissional
|
Anastácio
Sicato(56 anos)
|
-Escola
Primária:
duros e violentos. -Escola Secundária: baseavam-se nas faltas e chamadas ao gabinete do reitor |
-ficar de
joelhos sobre a areia; ficar de pé durante 1 hora
-faltas de presença e disciplinares, que podiam até levar à reprovação |
Métodos
eficazes.
|
Não havia
reações contra os métodos impostos, nem rebeldia. Os alunos queixavam-se
entre eles, mas entendiam
|
Caracterizado
pelo respeito e profissionalismo
|
Não
|
Apenas no
tempo do estudo, pois obrigavam a manter ou a subir as boas notas.
|
João Job(68
anos)
|
Severos, rudes
e rígidos, que não permitiam qualquer tipo de resposta por parte dos alunos
|
Apanhar com
palmatórias nas mãos; ficar de joelhos sobre pedras; fazer o mesmo número de
cópias de um texto, tanto quanto fôssem os erros dados na primeira vez
|
Métodos
eficazes
|
Os alunos
ficavam quietos e calados, limitando-se a obedecer
|
Ambiente de
autoridade.
|
Não
|
Maior
disciplina; grandes aspirações e esforço para concretizá-las; adquirir
conhecimentos
|
Constança
Job(56 anos)
|
Severos e
exigentes
|
Apanhar com
palmatórias; ficar de joelhos; repetir o que não se sabia 100 vezes
|
Eficazes
|
Os alunos não
tinham qualquer tipo de reação contra os castigos.
|
O professor
exigia muito dos alunos, era a autoridade, e estes tinham de acatar.
|
Não.
|
Mais
responsabilidade, respeito e disciplina
|
Conclusão
Ao
analisar o primeiro quadro, verifica-se que, aproximadamente, entre as décadas
de 50 e 70(período em que os entrevistados iniciaram o seu percurso escolar),
os castigos apoiavam-se nas punições físicas. Estas iam desde as palmadas, até
a permanência em posições desconfortáveis, e eram acompanhadas de sanções
caracterizadas pela repetição sistemática da matéria pelo aluno, quando cometia
um erro.
Estes
métodos, impostos pelos professores, mostravam-se os mais adequados e eficazes
naquela época. Os alunos mantinham uma atitude passiva dentro da sala de aula,
pois o professor, figura de autoridade, era respeitado e nunca contestado.
Maioritariamente,
estas punições contribuiram vivamente para o desempenho pessoal e profissional
dos indivíduos, que, graças a elas, adquiriram maior responsabilidade e
disciplina, não havendo qualquer tipo de resultado negativo.
Entrevistado
|
Métodos
|
Exemplos
|
Eficácia
dos métodos
|
Efeitos/Reações
|
Relação
aluno- professor
|
Já
se sentiu denegrido com algum castigo que lhe foi aplicado?
|
Contribuição
dos castigos para
personalidade/
desempenho
profissional
|
Xala
Loureiro(32 anos)
|
Variados, mas
predominantemente punições físicas.
|
Virar para a
parede; puxões de orelhas; palmadas; ser posta de joelhos
|
Métodos
eficazes.
|
Medo, receio
por parte dos alunos.
|
Medo e
distanciamento
|
Não.
|
Educação;
Respeito pelos valores e pela hierarquia.
|
Ngueza
Loureiro(29 anos)
|
Métodos
rigorosos
|
Reguadas; fazer o mesmo número de cópias de um texto,
tanto quanto fôssem os erros dados na primeira vez
|
Métodos
eficazes.
|
Medo por parte
de quem sofria os castigos.
|
Medo,
distanciamento e respeito
|
Não.
|
Maior rigor e
perfeccionismo.
|
Yolanda
Bilala(29 anos)
|
Predominantemente
castigos físicos
|
Palmadas;
Puxões de orelhas
|
Métodos pouco
eficazes.
|
Raiva, revolta
e contestação.
|
Proximidade
|
Não.
|
Apenas no
tempo de estudo, fizeram com que não repetisse os erros cometidos
|
Conclusão
Observa-se
aqui que, o método dos castigos escolares levado a cabo entre a década de 80
até, aproximadamente, ao final da década de 90, não sofreu grandes alterações,
quando comparado ao anterior. Este, que é receado pelos alunos, continua a
apresentar-se predominantemente físico,e com grandes contribuições nos seus
desempenhos pessoal e profissional(maior respeito, rigor e perfeccionismo).
Porém, a última entrevista mostra-nos que, em meados da década de 90, já se verifica alguma mudança no que diz respeito a eficácia desses métodos e a relação aluno-professor. Pois, se até então o medo dos alunos impedia-os de contestar as decisões do professor, esse medo transforma-se em raiva e revolta, e agravamento do mau comportamento. Começa também a haver uma relação de proximidade entre aluno e professor.
Porém, a última entrevista mostra-nos que, em meados da década de 90, já se verifica alguma mudança no que diz respeito a eficácia desses métodos e a relação aluno-professor. Pois, se até então o medo dos alunos impedia-os de contestar as decisões do professor, esse medo transforma-se em raiva e revolta, e agravamento do mau comportamento. Começa também a haver uma relação de proximidade entre aluno e professor.
-Terceira
Geração
Entrevistado
|
Métodos
|
Exemplos
|
Eficácia
dos métodos
|
Efeitos/Reações
|
Relação
aluno- professor
|
Já se
sentiu denegrido com algum castigo que lhe foi aplicado?
|
Contribuição
dos castigos para
personalidade/
desempenho
profissional
|
Pinho Sicato(15 anos)
|
Castigos a nível psicológico, baseados em ameaças.
|
Se o aluno fizer barulho, o professor ameaça-o,
convidando-o a sair da sala de aula
|
Métodos eficazes.
|
Os alunos limitam-se a cumprir as ordens do
professor.
|
Positiva e de compreensão
|
Não.
|
Maior determinação, estabilidade e força de caráter.
|
Chélcia Arsénio(14 anos)
|
Ameaças, faltas e relatórios aos encarregados de
educação a cerca do mau comportamento do aluno
|
Falta de presença; Falta disciplinar; chamar o
encarregado de educação a escola
|
Pouco eficazes.
|
Por vezes há a contestação da decisão do professor.
Há um sentimento de medo por parte dos alunos, que logo passa. Não há qualquer mudança de comportamento. |
Desrespeito dos alunos, em relação ao professor.
Tolerância do professor face a este desrespeito. |
Não.
|
Em nada.
|
Caio
Pereira(12 anos)
|
Faltas
e ameaças.
|
Faltas
de presença e disciplinares
|
Pouco
eficazes.
|
Os
alunos contestam as decisões dos professores
|
Desrespeito
|
Não.
|
Em
nada.
|
Conclusão
A
partir de 2003, verifica-se a evolução dos castigos escolares, que passam de
predominantemente físicos a ameaças, chamadas de atenção e faltas, que se
mostram pouco eficazes. Os alunos, na
maioria das vezes, não acatam as ordens da autoridade da sala de aula, chegando
até a contestá-las. A atitude passiva e o receio desaparecem, dando lugar ao
desrespeito dos alunos pelo professor, e à tolerância deste último no que toca
a esse desrespeito.
As
sanções deixam de, progressivamente, contribuir para a personalidade e
desempenho profissional do estudante.
Os
castigos escolares continuam a não denegrir os alunos.
Observação-Participação
Para
melhor conhecer os métodos escolares adotados atualmente na sala de aula, o
nosso grupo realizou a observação de duas turmas do décimo primeiro e do oitavo
anos, em duas sessões, cada uma.
Pontos a observar:
·
Disciplina/Comportamento dos alunos na
sala de aula;
·
Postura dos alunos na sala de aula;
·
Métodos utilizados pelo professor para
manter a disciplina;
·
Resposta dos alunos a esses métodos;
·
Eficácia dos métodos.
Observação da turma do décimo
primeiro ano
-Disciplina e comportamento dos
alunos:
·
No início da aula, a turma, em geral,
leva algum tempo a concentrar-se, enquanto a professora dita o sumário e faz a
introdução da matéria.
·
Ao longo de toda a aula, o comportamento
e postura da turma são marcados pela inquietação, conversas paralelas e ações
inapropriadas, que, na sua maioria, não são vistas pela professora:
-os
alunos mascam pastilha na sala de aulas;
-alunos mostram-se desinteressados,
e, como alternativa, tentam dormir, havendo apenas 5 alunos a participar
integralmente;
-quando a professora faz questões,
os alunos respondem desorganizadamente, chegando até a sobrepôr a sua voz uns
aos outros e a professora;
-Métodos utilizados pela professora
e a sua eficácia:
·
A professora marca falta de material aos
alunos que não levaram o caderno de atividades.
Reação: Os alunos riem e não se parecem importar.
Reação: Os alunos riem e não se parecem importar.
·
A professora marca falta de presença a
um aluno quando este acumula 3 faltas de material.
Reação: O aluno não contesta a decisão da professora.
Reação: O aluno não contesta a decisão da professora.
·
Ao apanhar um dos alunos a estudar
Português na sua aula de Geografia, a professora guarda o livro em cima da sua
carteira.
Reação: O aluno retira da sua mochila outros apontamentos, sem a professora ver.
Reação: O aluno retira da sua mochila outros apontamentos, sem a professora ver.
·
Para acordar os alunos, a professora
bate palmas.
Reação: Durante os primeiros minutos os alunos parecem acordar, mas rapidamente voltam a sua postura de sono.
Reação: Durante os primeiros minutos os alunos parecem acordar, mas rapidamente voltam a sua postura de sono.
·
A professora pede aos alunos que se calem,
quando estes mantêm conversas paralelas entre si.
Reação: Os alunos deixam de conversar durante alguns minutos, voltando depois a ter o mesmo comportamento.
Reação: Os alunos deixam de conversar durante alguns minutos, voltando depois a ter o mesmo comportamento.
Observação da turma do oitavo ano
-Disciplina e comportamento dos
alunos:
·
Em geral, os alunos participam bastante
na aula;
·
Ao longo de toda a aula, bastando apenas
um comentário da professora, os alunos desencadeam uma conversa desorganizada;
·
Alguns dos alunos dormem.
-Métodos utilizados pela professora
e a sua eficácia:
·
Devido ao barulho crescente que se vai
instaurando na sala de aulas, a professora diz aos alunos que desistirá da
aula.
Reação: Os alunos pedem que a professora dê a aula, e melhoram o seu comportamento durante algum tempo.
Reação: Os alunos pedem que a professora dê a aula, e melhoram o seu comportamento durante algum tempo.
Conclusão
Os
métodos de punição da professora baseam-se nas faltas, conversa com os alunos e
ameaças, isto é, são de caráter psicológico.
Essas
medidas mostram-se temporariamente eficazes porém, os alunos, após alguns
instantes, voltam a ter as mesmas atitudes e comportamentos, como é exemplo o aluno
do décimo primeiro ano que continuou a estudar português, mesmo após a
reprimenda da professora.
Podemos
caracterizar o comportamento e a postura dos alunos como uma recorrente
contestação da autoridade, que provam que os métodos levados a cabo pela
professora são apenas eficazes temporariamente.